sexta-feira, 27 de março de 2015

Padre Dehon e a Paixão de Cristo






















Caros irmãos e irmãs, Paz do Sagrado Coração de Jesus e o materno amor de Maria Santíssima a todos vós!

Estamos entrando na Semana Santa, tempo forte em nossa vida. Como disse no artigo anterior, a Quaresma indica este tempo favorável à conversão do coração, das atitudes – o rasgar o homem velho afim de que viva em nós o homem novo, renovado, segundo o Espírito Santo que nos deu o Pai, por Jesus.

Padre Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, foi um amante do Mistério da Paixão de Cristo e viu, neste ato solene, elementos fundamentais da nossa fé e da nossa adesão a Cristo Jesus.
No Diretório Espiritual, obra deixada por ele aos seus religiosos, dedica parte à Paixão de Cristo e mostra como o Senhor nos ensina com seus atos diante de sua condenação e morte.
Assim nos diz: 
“No seu modesto triunfo, montando um jumentinho, no começo da Semana Santa, Nosso Senhor ensina-nos a doçura e a humildade: [...] ‘Aí vem o teu rei manso’ (Mt 21, 5). Em Betânia, durante a Semana Santa, Jesus dá-nos, junto dos seus amigos, um exemplo de fidelidade nas provações.  Durante a agonia, no Jardim das Oliveiras, com os seus indizíveis sofrimentos, ensina-nos o que é o pecado, quanto ele pesa na sua alma inocente. Convida-nos a nos unirmos à sua agonia, a passar com Ele as tardes, o começo da noite, para consolar o seu Coração com os nossos sentimentos de amor e de compaixão. Na presença dos juízes, Jesus mantém-Se em silêncio: ‘Mas Jesus continuava calado’ (Mt 26, 63).  Este silêncio revela-nos o seu abandono, a sua submissão à vontade do Pai, o seu amor para conosco. [...] Deseja, antes de mais nada, dar o seu sangue, a sua vida, para nos salvar. [...] Mas pede também que morramos para os nossos pecados, para os nossos defeitos, para a nossa natureza corrompida, a fim de vivermos uma vida nova, uma vida inteiramente sobrenatural, a sua própria vida. (D. E. 1998, p. 35)Podemos perceber, entre as atitudes do Salvador acima destacas que Ele, mesmo sendo Deus, passou por provações humanas. Dor, sofrimento, medo, angústia, sentimento de abandono. Experimentou em tudo nossa condição, exceto o pecado. Mas de tudo isso, o que mais chama a minha atenção e quero, pois, partilhar convosco, é o silenciamento de Nosso Senhor. Diante de Pilatos, dos algozes e daqueles que zombavam Dele, Ele nada dizia e de nada tentava se desviar, nos diz a Escritura. Padre Dehon diz: “Este silêncio revela-nos o seu abandono” (D. E. 1998, p. 35).

O que menos se faz atualmente, é silêncio. Porém, há uma distinção que devemos fazer entre silêncio material e silêncio interior, espiritual. Por silêncio material, entendemos o ato de não emitir ruídos sonoros, de evitar conversas, música e cuidar ao utilizar algum objeto para que este não faça ruídos. Ao passo que, por silêncio espiritual, entendemos algo mais voltado para nosso interior, para nossa intimidade. Em outras palavras, silenciar-se interiormente quer apontar uma atitude que, consequentemente, afeta nossa dimensão espiritual, ou, como diz Padre Dehon, nossa Vida Sobrenatural. Fica evidente que muitas vezes precisamos de uma certa junção dos ‘dois tipos de silêncio’ para obtermos êxito em nossa vida espiritual. Se estamos em um lugar silencioso, se passamos alguns momentos do dia mais recolhidos, mais reflexivos e meditativos, vamos, aos poucos, nos voltando ao nosso interior. E é no interior que conseguimos encontrar o Senhor, afinal, cremos que Ele habita em nós e se ‘esconde’ em nossas entranhas.

Partimos do silêncio de Jesus – silêncio de abandono, para nosso silêncio de encontro – consigo mesmo e com Deus.

São Bento, grande santo da Igreja, disse em certa ocasião que “o silêncio é o grande Mestre, pois ensina-nos sem falar nada”.

Que tal um pouco desta experiência? Vamos nos silenciar? Como disse no início, aproxima-se a Semana Santa; que tal fazermos dela um ‘Grande Retiro espiritual’; mas o quem será o pregador deste Retiro? Que apostila seguiremos? Quais as leituras bíblicas que meditaremos nos momentos oportunos?

Pode ser que eu tenha uma sugestão favorável: Deixe o Espírito Santo pregar seu retiro de Semana Santa, utilize e grande apostila da sua vida que ainda está em fase de construção. E as leituras bíblica, podem ser as da Liturgia própria da Semana Santa, as quais falam muito por si só!


Fraterno abraço! 

quinta-feira, 26 de março de 2015

Quaresma: Tempo Favorável





Caros irmãos e irmãs, Paz do Sagrado Coração de Jesus e o materno amor de Maria Santíssima a todos vós!

Estamos vivendo o Tempo litúrgico da Quaresma, tempo este que, sem muitos rodeios, vai direto ao ponto: ‘Conversão’!

Sempre é tempo de conversão, de mudar de vida, de rumo e direção; essa ação é uma atitude frequente em nossa vida, em nossa caminhada sobre a terra. Caso contrário, seríamos os ‘sempre assim’ e nada nos impulsionaria, nos colocaria adiante e nos fortaleceria nas adversidades da vida presente.

Falar de Quaresma, é falar de um tempo, o qual é apontado, na linguagem bíblica, pelo número de 40 dias, onde o Senhor Jesus que “foi conduzido pelo Espírito ao Deserto” (Mc 1, 13a), retirou-se para se preparar para sua Missão salvífica no meio do povo. Por lá, “as feras o tentavam, mas os Anjos o serviam” (Mc 1, 13b).

Olhar para este ‘movimento’ de Jesus, é olhar também para o ‘movimento quaresmal’ em que cada um de nós é chamado. O ser levado pelo Espírito, aponta a dimensão do deixar-se conduzir por Deus, atitude esta que, sem dúvidas, não foi algo ausente da vida de Cristo, muito pelo contrário, Ele mesmo disse que “o meu alimento é fazer a vontade do meu Pai” (Jo 4, 33-34). O Cristo foi obediente em sua vida terrena e não hesitou em fazer aquilo que o Pai lhe designara e dera como missão em face de nossa Salvação.

Além da Obediência, percebe-se a tentação do demônio, o astuto por excelência, que quis fazer o Cristo obediente, tornar-se corrupto e falho. Acompanhamos no Evangelho de Mateus, no início do capítulo 4, as três grandes tentações que foram colocadas diante do Senhor: a primeira delas, foi a de transformar as pedras em pão, afim de que Ele se alimentasse e não mais fizesse o jejum que havia iniciado; na segunda tentação, o Filho de Deus é ‘testado’ em relação ao seu poder exatamente quando o demônio sugeriu que ele se jogasse do alto do templo; e, por fim, na terceira tentação, Jesus nega a adoração ao inimigo. Sequencialmente, as tentações resumem-se em Prazer, Poder e ter. O Cristo não quis se fartar com o pão, nem mostrar sua Glória e majestade, muito menos ‘ter’ os reinos prometidos pelo inimigo, exatamente por que não foi para isso que ele veio – para se mostrar e ser servido.

Ele veio para servir. Seria familiar essa expressão? Sim! “Eu vim para servir” (Mc 10,45) é o tema da Campanha da Fraternidade deste ano que é para nós uma chamada de atenção em relação à nossa vida de serviço, de doação, de ‘esvaziamento de nós mesmos’ para nossa doação ao próximo, à sociedade que está gritando e pregando, exatamente, que o Prazer, Poder e Ter devem ter a primazia na vida moderna.

Conversão, por fim, é esta mudança, uma espécie de, como dizem no popular, ‘remar contra a maré’ e lutar pelos valores para uma vida mais digna e justa. Conversão é ‘ver como algo está e buscar meios para que, se for preciso, não esteja mais assim’. É mudança, às vezes radical, sem contornos nem desculpas velhas. É, sobretudo, confiança, afinal quem confia sabe que pode ‘mudar de rota’ e pegar outra via, pois tem Alguém que é, para todos, sem acepção de pessoas, “O Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6)

Desejo um bom final de Quaresma e um proveitoso tempo da Paixão do Senhor!